Olá, saudações do mundo à frente da tela do computador.
Venho dar notícias repetidas, pois a repetição, talvez, cause pane no sistema, esse que é vigente, sistema no qual nós vivemos, o qual implanta, com muita sagacidade e sutileza, a mais cruel de todas as premissas: COMPETIÇÃO.
Perceba: sem querer, realmente sem sentirmos, estamos imersos em algo muito maior do que a simples disputa pelo cargo da empresa, disputa que, aliás, é um pensamento programado para acharmos que a “cruel competição do mercado” é essa para a qual devemos estar preparados, pois “só sobrevivem os mais fortes”.
Assim, nos destinamos ferozmente à luta pelo melhor. E quem não quer o melhor? Mais ainda, quem não quer o melhor para si mesmo? Nos juntamos, nos vestimos de nação, mas pensando, cada um, em seu sonho individual. E aí, seguimos entendendo que devemos subir degraus, ou seja, há sempre a necessidade do pensamento de se estar crescendo. De preferência, bem rápido.
E tudo é bem programado da seguinte forma: até os sete anos você pergunta então te colocam na escola para você “aprender” a responder, como diria o filósofo Mário SérgioCortella. Arrisco ir além e digo que a sequência lógica do vencedor é escola – universidade - mercado de trabalho – presidência da empresa – gorda aposentadoria – e, enfim, a pacífica morte, em um leito abastado rodeado de seus parentes amorosos que irão disputar seus bens. Talvez alguns façam caridade, mas por desencargo de consciência, pois até as doações aos pobres estão programadas.
Mas o que seria de nós, bravos guerreiros leitores de “O Segredo”, “O monge e o executivo”, sem os nossos opostos? Admita, você gosta da violência, para se sentir limpo, para ter de quem falar. Tem repúdio a homossexuais, mas adora vê-los passar para poder comentar com seus amigos sobre a frágil e cômica figura. Você adora os flanelinhas, aos quais dá apelidos impensáveis, pois eles lhe lembram que você é um vencedor, você não é igual ele.
Meu pai costumava dizer que “o mendigo só é mendigo por que ele deixou de ter sonhos” e dizia isso com a inocente sensação de que me empurrava aos sonhos e planejamentos de uma vida confortável, em um apartamento em Copacabana. Hoje li uma matéria no jornal em que era relatado que um garoto fora esfaqueado por um colega de classe e a irmã deu a seguinte declaração: “Isso não vai ficar de graça, porque o meu irmão é estudante e não moleque de rua.”
Todos gostamos de ser bons e outros vão além dizendo que quando são bons, são bons e quando são maus, são melhores ainda. Gostamos de nossos empregos e fast-foods e de rir dos filmes blockbusters e de pensar assistindo filmes israelenses e de nos sentirmos bem pela vitória de um povo pobre sobre um mais rico, pois a justiça foi finalmente feita. Admita que se é mesquinho até quando se pensa no bem, pois só se pensa em ser bom para poder SUPERAR o mau.
É como se precisássemos do feio para irmos atrás do bonito. Como se precisássemos do pequeno para nos lembrarmos que somos grandes. Como se precisássemos do mau para ratificar nossa bondade. É como se precisássemos do miserável, para lembrarmos que somos ou devemos ser ricos.
Se houvesse o entendimento simplório de que não há perda na mudança, só ganhos, pois se há perda dos 3 carros importados acumulados na garagem, como bom capitalista que acumula dinheiro que se é, há ganho do expurgo da violência e da mendicância, há a finalização da pobreza e do princípio da maldade: o desejo colérico pelo que, por direito, não é seu.
Mas pensando em tudo isso, e sabendo que todos sabem disso, lá no fundo, resta a pergunta: quem vai querer se livrar do que é mau já que sem ele nunca se poderá sentir -se melhor?
A doença do Planeta não é o ser humano, o consumidor da publicidade barata ofertada a todo tempo. A doença do Planeta não é a falta de consciência coletiva e ambiental. Não é falta de caridade ou de pensamento ao próximo. Tudo isso está programado. O pensar em tudo isso e a culpa por nada fazer é parte do show.
A doença do Planeta é essa e tão somente essa: a programação.
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