quinta-feira, 1 de abril de 2010

Umaisdois


Um

Colocou o pé direito no chão morno de seu quarto de dormir. Enquanto seus olhos abriam-se vagarosamente ratificando a dor que é causada pela luz matinal nas retinas meio adormecidas, percebia o aroma cafeinado que vinha da cozinha.

Caminhou vagarosamente, após ter visto que as horas ainda eram precoces, até o banheiro, mal lavou seu corpo, onde posteriormente acomodou com certa preguiça as roupas e deambulou até a sala, onde sua mãe a esperava com suas pressas e preces tradicionais.

Tratou de engolir a massa que fora tocada por algumas outras pessoas antes de tocar sua boca, sorveu o líquido aromático que percebera ainda no banheiro e disse adeus a sua mãe, dando-lhe um beijo na cabeça.


Dois

Mal levantou as pálpebras naquela manhã, nem mesmo olhou para o relógio, pôs-se a correr. Rapidamente levantou-se, atropelou o livro que deixara cair no chão na noite anterior, quando lutava contra o sono, bateu os pés de ossos levemente tortos no assoalho, correndo. Talvez de si, talvez do tempo, talvez das caras amarradas que enfrentaria devido a seu atraso.

Quase queimou os lábios bem pintados de vermelho com o café quente obtido na troca de 5 reais em uma loja chamada Grão, que ficava na esquina de sua casa. Corria. Continuava correndo. Agora em direção a seu carro vermelho. Abriu a porta, entrou, sentou-se, olhou-se no espelho e repetiu a mesma frase que alegava todos os dias para o vidro refletor : “Você é linda!”


Três

Por que gostava das 8:30 da manhã, horário em que os carros lhe davam ideias e a brisa lhe acalentava a alma, andava até a agência em que trabalhava como redatora publicitária. Não sabia por que havia escolhido a profissão, mas criar títulos imaginativos e amarrar textos quaisquer que fossem, davam-lhe certo prazer, nada daquele peso de ser o objetivo da vida, era algo leve, fluido, com um quê de “tinha de ser” um tanto poético, como ela.

Por que morava a quatro quarteirões de seu trabalho, onde era executiva de importantes contas de publicidade, ia em seu veículo próprio, à velocidade que Deus disse, com uma hora de espaço entre aquele momento e o começo do expediente. Usava saltos que estragariam nas calçadas esburacadas, onde ainda dormiam crianças e velhos diferentes dela.

Chegava perto da esquina mais arborizada de seu caminho. Um sinal fechado, o outro aberto, apostou que os carros sob ordem do semáforo em magenta estavam enlouquecidos, como verdadeiros leões prestes a atacar. Avistou de longe um carro vermelho. Dentro dele uma moça jovem, aparentando uns trinta e dois anos, falava com o espelho. Ela viu que a moça reparou a demora do sinal, deixando sair de sua boca vermelhíssima de batom palavras de ódio, apressadas, abusadas, abusivas.

De dentro do carro gritava, estava aos berros, transloucada, olhava o relógio e com a boca vermelha proferia palavras de desgosto. Precisava sair daquele lugar. Precisava sair. Precisava. Correr, correr, assim, sem conjugar, para ficar mais livre e contiuar, ar, ar! Saiu do carro. Largou o veículo de qualquer jeito em um espaço qualquer, enlouquecendo o flanelinha de quem sentia nojo.

Com ouvidos preenchidos por música que considerava inteligente e o cérebro sucumbindo à proposta utópica da canção, observava a cena. Como em um video-clipe do fim dos anos 80, a cena era uma historinha imaginada, uma mulher correndo, os carros a rosnar, os semáforos de vida própria dirigiam o espetáculo. Sua alma tão amena, nada inocente, procurava editar a narrativa direcionando os olhos: close nos pés, abre pro asfalto, panorâmica do trânsito. E os olhos da mulher, ah, os olhos da mulher! Insanos, vermelhos, corriam mais que o correr.

Precisava passar, não observou no semáforo a nova direção. O sinal verde havia cortado a cena para quem caminhava, os protagonistas seriam, naquele momento, naquele espaço, os automóveis, os carros, os ônibus, as bicicletas, os que tinham rodas de borracha, não os que tinham extremidades humanas de osso e carne. Não viu, não observou, não tentou, não ficou, não hesitou, não parou, não olhou para ninguém. Correu. Na tentativa de furtar a cena para si, perdeu. A grande máquina obedeceu o diretor, com suas rodas e frente gigantescas finalizou o ato de rebeldia. Não era só mais a boca, mas a pele branca estava vermelha. Fora lançada e já não mais era protagonista, antagonista, coadjuvante. Neste mundo, já não era mais nada. Sem lugar, separada de seu relógio, descabidamente revirada, teria vergonha de estar exposta daquela forma tão humana. Isto é, se pudesse ter vergonha ou qualquer coisa, mas a partir daquele momento não poderia ter mais nada.

Assustou-se. Não gritou, levou as mãos à boca para conter o grito. A música continuava ecoando em seus ouvidos e já não era mais trilha para a cena. A cena havia findado. Continuou andando vagarosamente, apesar de ter apressado um pouco mais os passos. Aquele monte de gente, aquela aglomeração, aquelas pessoas unidas como se fossem lutar por algo em conjunto, “preparando-se para a batalha”, ela pensou. Passou ao lado, todo aquele vermelho, aquela vida espalhada, aquelas vidas ao redor. Olhou para o relógio. O semáforo lhe disse “vai!”. Faltavam 5 minutos para chegar à sua sala. Deixou toda aquela vida para trás. Não havia nada a fazer. Seguiu.

domingo, 7 de março de 2010

Tá certo.


É tudo uma questão de ponto de vista e talvez um pouco de experiência. A busca pela cobertura, a forma mais agradável, o modo de não ser tão dramático, tão doloroso, é eterna. Alguns tentam a maneira mais dura, outros são mais moles mesmo. Mas no fim das contas, quem está certo?

A certeza é cega e surda. A certeza já te abandonou faz tempo e quem ficou cego e surdo agora foi você. E provavelmente não é sua culpa, você fantasiou com a certeza, você quis acreditar na certeza e ela te engravidou e àquele tempo você ficou certo, certo da certeza. Agora a certeza partiu te deixou certo, certo de que a culpa foi sua, certo de que era tudo um monte de mentiras que todos, TODOS contam por que ninguém agüenta a realidade.

Realidade é muito diferente, e às vezes, o oposto da verdade. A realidade não precisa estar aberta à exposição; a verdade, ao contrário é um circo cheio de sons e provas de que o mundo é muito feliz. A realidade está ali, escancarada na sua cara, em seu cantinho, é bem verdade, mas ali à mostra pra você, e você prefere a verdade. O factual é verdadeiro e o que se esconde, e cada um sabe internamente, sempre, é real. A gente é mais feliz sendo verdadeiro, não real.

A felicidade, ah, a felicidade. A felicidade é uma linda e eterna criança que come fast-food, se entope de refrigerante e tem cáries, pois o que importa é sentir o sabor e saber das coisas. O resto, ah, o resto é real demais e eu prefiro o que é verdade.

A felicidade muda, a verdade muda. Cada um tem sua noção do que é ser feliz, do que é ser verdadeiro. A verdade é um delicioso e suculento sorvete de morango em um dia de 40 graus, sol a pino. A felicidade é a casquinha do sorvete. E você, você é o único real da história toda, se deliciando com o doce sabor do que tem em mãos. Grávido da certeza, você está sempre certo. Só mesmo estando sempre certo que você consegue se livrar da realidade transtornante que é admitir que seu sorvete não acabou, ele não derreteu. Seu sorvete nunca existiu.

Mas, calma. Esse não é um texto desesperançoso, não é. Estou certa disso. A esperança das coisas e da beleza das coisas está exatamente no legado que a certeza deixou. Se a certeza passou por sua casa e lhe impregnou com suas fitas coloridas, a beleza está no que vem. E o que vem não pode ser ruim. Você está cheio! Sem mais verdades e felicidades, a beleza de se estar certo é contar com o que é real. E, vendo daqui, o real nem parece tão duro, nem tão sombrio.

Eu, por exemplo, poderia contar com a certeza de outros e explodir de tomar sorvete sem saber o que é. Certa que estou de mim, agora, o caminho se abre, sim, por que a verdade estreita, minimiza, agora, a realidade...ah, a realidade não é a infantil felicidade, a realidade te dá pés. A realidade te deixa ciente de que você tem o legado da certeza. Basta olhar, é só colocar um pouco de música, ou sem música mesmo vai: com a verdade a certeza me deixava cega e surda, o real me mostra a certeza longe e o que tenho é a beleza do certo, não da certeza.

Pés firmes, com medo, pois só do medo nasce a coragem (e Deus me livre não ter medo e perder a coragem) certa, real, lá vou eu enfrentando como São Jorge o dragão das verdades com minha espada real. Peito aberto, corpo aberto, coração escancarado, passando por mais um caminho que exige tão-somente isso. Real como nunca, vou além de ossos e músculo. Agradecida à certeza .

A certeza me deixou, me deixou certa. Adeus, certeza, obrigada. Com o tempo, as mágoas também se vão.

terça-feira, 2 de março de 2010

Sensacional


Hoje de manhã, pouco antes de sair para trabalhar, percebi um cheiro. Uma correntezinha de ar passou pelo meu corpo e, não fosse a minha sensibilidade incrível para sentimentos do passado, observação constante, eu não teria me tocado, entendido, tido certeza de que eu já havia sentido aquilo. Não só uma vez. Na verdade, já havia experimentado essa mesma sensação, não a de lembrança, mas a que promoveu a lembrança, muitas vezes. Praticamente quase toda a manhã eu sentia isso.

O engraçado é que essa sensação, esse cheiro de gosto estranho, esse frio de cores suaves, só me apontava lanças ameaçadoras em momentos de confronto iminente. Não era medo ou dor. O medo, e até mesmo a possibilidade de dor, vinha após. Essa sensasaozinha tão minha, imanente, que sempre me acompanhou, havia me deixado e eu nem percebera, até que ela reapareceu, arco e flecha, hoje de manhã como que para me lembrar que havia ido embora.

Me pus a pensar e logo precisei escrever, o que havia feito eu não perceber o abandono, a partida dessa sensação que me acompanhou por toda a vida. Mais ainda, me entreguei à breve paranóia de minutos sobre o motivo do abandono. Fiquei matutando, perguntando, lembrando dos meus sonhos, esperando, esperando, esperando e...nada.

Eu não entendia o motivo do abandono, haveria sido negligência minha? Como uma parte de mim, uma parte tão minha da qual nem me dava conta existir, assim, como aquele calo que me acompanha desde criança ou os meus relevantes sinais nas costas, vai embora e eu não sinto? Teria sido falta de atenção? Teria eu expulsado a sensação?

Agora que ela passou por mim tão rapidamente como se dissesse um “Olá, tudo bem?”, essa sensação que só eu sei e que nem a arte haveria de explicar, fiquei perdida, um pouco atordoada. Para ser sincera, sorri como se reconhecesse um velho amigo com o qual perdera contato e agora se tornara um novo colega. E quando ela foi, ela foi. Não sei se volta e não sei se trouxe novamente com suas lanças a notícia de um confronto.

Foi então, no pensamento retumbante sobre o destino incerto da minha antiga sensação, que refestelei meu corpo sobre a certeza mais certa e maravilhosa da minha ainda curta, talvez longa, vida: ela havia partido aos poucos à medida que meus ossos se esticaram estalando contra meus ouvidos, partiu devagar, pé ante pé, nos momentos em que meus músculos e pele cresciam. Deixou-me de mansinho a cada “não” que saía da minha boca, a cada revolta contra o que já está estabelecido e que explodia em minha luta diária. Foi indo com as minhas bonecas, levando debaixo do braço minha casinha com família de comercial de margarina.

A minha sensação me deixou tão mansamente, como se deslizasse em nuvens de imaginação. Aquela sensação indescritível, adjetivo este que cala minha boca e prende minhas mãos, me deixou tão sem nada dizer, que não havia como eu perceber que partia: ela foi uma dama, uma menina criada em família de bons modos e, por isso, nem fez barulho. Fez o que tinha que fazer. Por que ela votou? Talvez pra relembrar uma velha amiga, alguém que já a vinha esquecendo. Sem dramas, disse “Olá”, passou suave e foi embora novamente, me deixando como estou, um pouco mais forte, talvez pra não voltar mais.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Eu quero descontrole.



Eu quero um pouco de descontrole por que a vida é controlada demais.
Tenho limites por todos os lados, revistas, meus olhos, sua boca, jornais.


Quero um pouco de descontrole para saber onde estou, por que não faço nada de errado
e se nada de errado faço, mais errado eu sou.

Quero um pouco de descontrole, ser o que não sou, sair das linhas e rimas, certos e cismas.

Quero um pouco de descontrole adoçado com adrenalina, sem saber o que vem e me avivar na esquina.

Quero um pouco de descontrole, não me moldar nos demais, não ser como os outros, felizes por serem normais.

Quero um pouco de descontrole por que me torno normal, orgulho da família, paixão nacional.

Quero um pouco de descontrole, me desamarrar do que vejo, ser mais humana, mais viva, mais obra, mais eixo.

Quero um pouco de descontrole, desentender a moral, me livrar do que me assombra, além do bem e do mal.

Quero um pouco de descontrole, por que não quero sentir vontade, a vontade da vontade é a filha do capital.

Quero um pouco de descontrole, comer com as mãos, por que só o faço em poemas, tão tristes dilemas.

E quero mais descontrole, quando me for necessário, não mais escrever e sim viver, pois minha vida real está somente em diários.

Quero um pouco de descontrole para seguir o que acredito, para seguir o que sei, para agir de improviso.

Por que vida é improviso, e me amarro no que não sou, tão boa, tão terna, minha bondade me estuprou, usurpando meus sonhos que não são de mercado, não são de papel, tenho sonhos alados.

Quero um pouco de descontrole para controlar o que faço, no descontrole da minha mente, a beleza do meu compasso.

E quando tiver em controle do meu descontrole tão são, vou andar sem querer saber de todos, já que todos são vãos.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

E-X-C-E-S-S-O.


Vivemos imersos no que historicamente criamos. Apesar de nomearmos esse terceiro ser, o olho que tudo vê, o “sistema”, o Big Brother, como nosso balizador, nosso doutrinador, estamos imersos nele que, sim, nós criamos. Na verdade, nós o somos.
Estamos vivendo a cultura construída ao longo de todos esses anos de existência terrestre e, como que ironicamente, cultivamos, fizemos a cultura destas relações (somente por que cultivamos chegamos até onde estamos), não nos livrando de nossas neuroses sociais e apenas acrescentamos outras. Agora aqui chegamos: a Era dos excessos.

Muito antes da propaganda, dos agressivos outdoors berrando em nossas caras, em nossos sorridentes rostos, acostumados com o que fizeram da Publicidade, muito antes disso, já começávamos a, voluntariamente, nos aprofundar em antigas novas crenças de felicidade prometida. A Publicidade, ou melhor, o que fizeram da Publicidade, apenas escancara isso, veias abertas, esfregando aquilo que somos e queremos ver.

Agora, sim, multiplicamo-nos tanto e multiplicamos tanto das coisas e das pessoas e tanto não temos e não sabemos o que significamos, que o inevitável binômio se instalou: ou jogamo-nos fora ou gritamos e berramos, como esquizofrênicos. Com um só objetivo: encontrarmos a nós mesmos.

Reproduzimos nossas vidas de forma industrial, ou seria melhor dizer financeira? Repetimos as premissas que nos ensinaram sem titubear, não nos arriscamos a ser chamados loucos ao tentar negar. Pois loucos só o são se são assim coletivamente identificados mesmo que sejam loucos aqueles que o são e passam despercebidos em sua loucura por não serem assim socialmente denominados.

Pois bem, estamos cá nós no mundo dos excessos no qual precisamos estocar para que não falte, sempre à beira de um colapso que poderá revelar a real loucura do sistema que criamos e somos.

E me pergunto, pra quê tanto? Pra quê tudo? Pra quê muito? E me arrisco na minha sanidade interna, que é loucura ainda não socialmente nomeada, a responder que é tão-somente para preencher um vazio que historicamente ainda não conseguimos preencher e que já tentamos preencher com realezas e nobrezas, sem retorno. Tentamos agora na produção massiva de conceitos gordurosos e efêmeros, alcoólicos e coloridos, sucintos e intensos, sem lógica, sem tempo, com pressa, ironicamente retratado pela Publicidade, ou melhor, pelo que fizeram dela. E é exatamente essa Publicidade aí que louca e ironicamente esconde na exposição de sua Felicidade industrial o lixo que nós, seres humanos, nos tornamos. Em excesso.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Pensadores...Pensadores????!!!


Depois de ler o texto “Ignorância verbal e Visual” de um multi-super-profissional (Jornalista, fotógrafo, mestre em design gráfico diretor de uma empresa de Comunicação de SC), publicado em uma revista eletrônica voltada à “comunicação”, no dia 27 de janeiro de 2010, pensei sobre a ignorância das classes: o proletário e a burguesia, ambos totalmente cegos. Na voz dele, fala a classe intelectual, jornalistas, publicitários, designers...os homens da comunicação que, possuindo ou não nível superior, adota condutas intelectualmente superiores.

Não agüentando a pressão, resolvi extender, para não esquecer que não começo nos pés e termino na cabeça.

Fala “daquelas pessoas ignorantes”, o intelectual que mal sabe o real peso e necessidade de uma universidade (ou conduta intelectual). O que ele faz é tão-somente reproduzir o que lhe ensinaram: ser superior “àquelas pessoas ignorantes”. O que aconteceu aos intelectuais? O que acontece com os “pensadores” de hoje em dia que não conseguem produzir algo de novo?

Devemos nascer para fazermos obras maiores, mais edificantes. E o que acontece hoje é apenas a reprodução “intelectual”, mantendo o status quo de forma inigualavelmente hipócrita, pois nunca na história, acredito, terem sido tão recorrentes os pensamentos iguais.

“Eu tenho nível superior”. Parabéns, você acaba de garantir seu lugar em uma cela individual, assim não terá que dividir os 30 m² desse ambiente com mais 79 presos, que são parte “daquelas pessoas ignorantes”. Caso você não tenha nível superior, mas se comportar como o formador de opinião intelectual de nossa Era, não se preocupe também.

Os pensadores da atualidade são aqueles que saem da universidade, ou melhor, de uma instituição de ensino que de nem de longe lembra aquela instituição que instigava as pessoas ao pensamento, reflexão, dúvida e, finalmente, ao demasiado humano questionamento. As universidades de hoje em dia são putas que têm filhos bastardos, filhos de muitos pais com pensamentos iguais, em uma só direção: a execução de sua prole assim que ela os acabar de servir.

Sim, são filhos das putas por que assim deixam que suas mães sejam usadas e assim preferem seguir.

Talvez haja cólera em demasia nesse meu texto, talvez eu devesse ser mais branda. Mas antes esbravejar contra algo que é tão claro e evidente que acabar encarcerada em uma prisão que você, intelectual ou expert, não enxerga, mas é muito mais brutal do que aquela a qual me referi anteriormente.

Não que não haja esforço para entender o pensamento de universitários ou graduados ou até doutores aos quais me refiro. Não necessito de esforço, pois conheço muito bem essa prisão, com suas grades invisíveis, mas que funciona igualmente à uma prisão estilo Bangú, sempre baseadas em moedas de troca. Sei bem o que é almejar a diretoria de uma empresa, querer ser reconhecida como grande cineasta, ter um super carro com o qual possa desfilar, ser juíza, eu já tive esses sonhos. E poderia conseguir qualquer um que escolhesse. Por isso não me julgo melhor ou pior que qualquer outro.

Mas depois de uma conversa esclarecedora que tive com dois irmãos, começo a perceber que nenhum desses sonhos foi algum dia audacioso. Audacioso é questionar e tentar entender o por quê, não só sentir e fazer, como nos ensinam os livros de auto-ajuda. Audacioso é pensar o contrário do que lhes mostram e esse é um exercício muito maior do que furar a língua ou ariscar um negócio novo com sua empresa.

Audácia é a premissa pregada por aquela que um dia foi a universidade: pensar diferente para fazer uma obra maior, que irá edificar a humanidade. Nunca para provar sua importância individual, não para ter ganho ou lucro, premissa essa da ideologia daquela que chamam universidade hoje em dia. E não entenda por edificar a humanidade criar novas ideias velhas baseadas na lei do “eu ganho algo com isso”, como a reprodução da mesma coisa em formato diferente (vide novas mídias).

Entenda que edificar a humanidade é o simples exercício de edificar o humano, não seus desejos pautados na fantasia criada por um sistema lucrativo que foi histórica e perversamente delineado. É biblicamente simples. Universitariamente audacioso. Talvez complexo demais para a intelectualidade de hoje.

Obrigado aos que me ajudaram a refletir: Kayo Ygor e Lívia Suellen

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Escrever ou não? Optei por não.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O show deve continuar?


Olá, saudações do mundo à frente da tela do computador.


Venho dar notícias repetidas, pois a repetição, talvez, cause pane no sistema, esse que é vigente, sistema no qual nós vivemos, o qual implanta, com muita sagacidade e sutileza, a mais cruel de todas as premissas: COMPETIÇÃO.


Perceba: sem querer, realmente sem sentirmos, estamos imersos em algo muito maior do que a simples disputa pelo cargo da empresa, disputa que, aliás, é um pensamento programado para acharmos que a “cruel competição do mercado” é essa para a qual devemos estar preparados, pois “só sobrevivem os mais fortes”.


Assim, nos destinamos ferozmente à luta pelo melhor. E quem não quer o melhor? Mais ainda, quem não quer o melhor para si mesmo? Nos juntamos, nos vestimos de nação, mas pensando, cada um, em seu sonho individual. E aí, seguimos entendendo que devemos subir degraus, ou seja, há sempre a necessidade do pensamento de se estar crescendo. De preferência, bem rápido.


E tudo é bem programado da seguinte forma: até os sete anos você pergunta então te colocam na escola para você “aprender” a responder, como diria o filósofo Mário SérgioCortella. Arrisco ir além e digo que a sequência lógica do vencedor é escola – universidade - mercado de trabalho – presidência da empresa – gorda aposentadoria – e, enfim, a pacífica morte, em um leito abastado rodeado de seus parentes amorosos que irão disputar seus bens. Talvez alguns façam caridade, mas por desencargo de consciência, pois até as doações aos pobres estão programadas.


Mas o que seria de nós, bravos guerreiros leitores de “O Segredo”, “O monge e o executivo”, sem os nossos opostos? Admita, você gosta da violência, para se sentir limpo, para ter de quem falar. Tem repúdio a homossexuais, mas adora vê-los passar para poder comentar com seus amigos sobre a frágil e cômica figura. Você adora os flanelinhas, aos quais dá apelidos impensáveis, pois eles lhe lembram que você é um vencedor, você não é igual ele.


Meu pai costumava dizer que “o mendigo só é mendigo por que ele deixou de ter sonhos” e dizia isso com a inocente sensação de que me empurrava aos sonhos e planejamentos de uma vida confortável, em um apartamento em Copacabana. Hoje li uma matéria no jornal em que era relatado que um garoto fora esfaqueado por um colega de classe e a irmã deu a seguinte declaração: “Isso não vai ficar de graça, porque o meu irmão é estudante e não moleque de rua.”


Todos gostamos de ser bons e outros vão além dizendo que quando são bons, são bons e quando são maus, são melhores ainda. Gostamos de nossos empregos e fast-foods e de rir dos filmes blockbusters e de pensar assistindo filmes israelenses e de nos sentirmos bem pela vitória de um povo pobre sobre um mais rico, pois a justiça foi finalmente feita. Admita que se é mesquinho até quando se pensa no bem, pois só se pensa em ser bom para poder SUPERAR o mau.


É como se precisássemos do feio para irmos atrás do bonito. Como se precisássemos do pequeno para nos lembrarmos que somos grandes. Como se precisássemos do mau para ratificar nossa bondade. É como se precisássemos do miserável, para lembrarmos que somos ou devemos ser ricos.


Se houvesse o entendimento simplório de que não há perda na mudança, só ganhos, pois se há perda dos 3 carros importados acumulados na garagem, como bom capitalista que acumula dinheiro que se é, há ganho do expurgo da violência e da mendicância, há a finalização da pobreza e do princípio da maldade: o desejo colérico pelo que, por direito, não é seu.


Mas pensando em tudo isso, e sabendo que todos sabem disso, lá no fundo, resta a pergunta: quem vai querer se livrar do que é mau já que sem ele nunca se poderá sentir -se melhor?
A doença do Planeta não é o ser humano, o consumidor da publicidade barata ofertada a todo tempo. A doença do Planeta não é a falta de consciência coletiva e ambiental. Não é falta de caridade ou de pensamento ao próximo. Tudo isso está programado. O pensar em tudo isso e a culpa por nada fazer é parte do show.


A doença do Planeta é essa e tão somente essa: a programação.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sobre poodles, pixels e seres...só pra descontrair.


A transformação não virá só pela boa vontade, ela deve ser forçada. Devemos vestir nossas armaduras e nos livrarmos de nossas roupas preguiçosas e acomodadas, dissolver ostenciosas panças burguesas ou proletárias. Devemos vestir-nos de armaduras de seres humanos e ver que movimentos sociais são os únicos que interessam pois o que existe é sociedade e todo o resto é convenção.


Precisamos estar organizados para fazermos essa mudança ocorrer. Diferentes que somos devemos unir nossas diferenças e perceber nossa única igualdade: somos todos seres humanos em um mundo que, por nossa causa, está a apodrecer.


Paremos de negar a existência da necessidade de realocar o ser humano como centro do objetivo social. Na verdade nos colocamos, nós homens, em último lugar na lista de prioridades do Planeta. Economia, globalização, novas mídias, projetos sociais, aparentemente servirão a nós seres, mas, na verdade, nenhum projeto, ironicamente, visa a sobrevivência do ser humano. A promessa da evolução escamoteia a visível degradação do ser humano.


A cada passo dado é cada vez mais visível a separação que sofremos de nós mesmos e, como se fossemos homens duplicados, nos apartamos não só uns dos outros mas do que somos: seres humanos. Somos papel pintado ou pixels unidos, preferimos ser assim. Um dia já repudiamos a ideia do Big Brother, aquele de 1984, e agora, em 2010, idolatramos não só a ideia como o próprio, nós o levamos para dentro de nossas casas e, “só para descontrair”, para não sermos chatos e “tão sérios e neuróticos”, aceitamos ser transformados no que queremos nos transformar.


Eu quero ser um Leão! Eu quero ser um Globo! Eu quero Um Milhão...e meio. Meio doidos, muito sãos, estamos cegos. Tristemente. Só pra descontrair, eu resolvi blogar. Só pra ser mais um. Só pra não me sentir tão só e ficar mais próxima da virtualidade onde estão todos os meus colegas e amigos, felizes, sorridentes, chegando à prometida terra da publicidade. Aceitando. Só pra descontrair, só pra descontrair...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O sim da dor.


Hoje vou escrever sobre algo positivo. Sim, é assim que devemos pensar, não? Tá. Vamos. Vamos lá. É...


Bom, profissionalmente, eu não posso escrever coisas negativas. Segundo regras da Publicidade, estou eternamente fadada, enquanto eu tiver uma ligação com a mesma, a escrever positivamente, sorrindo sins e engolindo meus nãos. Que meus nãos fiquem pra mim, só pra mim, e ninguém tem nada a ver com isso.
Apesar de esse caderno não ser uma extensão do meu trabalho, extende-se nele um sentimento de profundo de desprezo que sinto pela positividade evidente, aberta, escancarada, uma positividade publicitária.


Mas devo escrever sobre algo positivo, não era esse o propósito?
Uma vez a Madonna, pessoa muito inteligente e profunda conhecedora da alma do ser humano pós-moderno, revelou que não há arte sem dor. Que os artistas devem passar por momentos de dores profundas para que consigam compor lindas canções ou pintar bonitos quadros, para esculpir algo superior ao que é humano.


Concordo. E no fundo de minha mente sempre soube que a dor não necessariamente é negação. Quando se chega ao extremo de algo é quando estamos mais próximos do oposto daquela coisa. É nos cortes que as lágrimas fazem no rosto que o pensamento caminha para a lembrança do que é estar extremamente feliz. Por que é assim que gostaria de estar.


Então, que toda a dor, embora felizmente passageira, venha, se for para que eu sinta a saudade do que é estar sã, bem. Para que eu possa escrever sobre a dor de não ter algo que é bom. E, pense, esse não é um texto negativo. Pelo contrário. É uma ode à positividade, a estar bem. Nunca plantarei a semente do mal.


Então, SIM! Esperemos o melhor, o bom, o que traz paz e, estando em guerra devemos também amá-la, pois sem ela não há paz. É apenas uma questão de estratégia. SIM! Que nós possamos andar sobre o que é líquido, na fluidez das coisas de nosso tempo, para buscarmos sempre o que é sólido e nos equilibrarmos finalmente. Que sempre nós possamos buscar o equilíbrio entre o que é bom e o que é mau.


Agora, mais do que nunca, que nós possamos admitir a bela existência do não para que estejamos sempre a buscar o sim. E que reconheçamos que se tudo o que é ruim está sempre entrando por alguma brecha, não devemos afastar mas entender a beleza de que é por isso, exatamente por isso, que temos uma razão pra continuarmos a fechar tais brechas.
Que o não esteja ao redor, pois ele é a afirmação de que existe um sim. E que o sim permaneça sempre no caminho para que lembremos (não adianta negar) que é ele, sempre ele, que estamos buscando.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Stay with me, baby.


Hoje resolvi escrever certo. Cansada de escrever ao contrário do que penso para ver se o pensamento se refaz com outra guia, por outros caminhos. Então resolvi escrever ao som de “Stay with me baby” (veja "Piratas do Rock" ou "The boat that rocked"). Pois o sofrimento é este. Este é o sofrimento. Aquele que aparece quando se sabe estar dando tudo, como o vento se sente ao empurrar as coisas do mundo, como se sente o pensamento quando tenta nos fazer crescer, e não ver resultados ou retornos.

A música ressoa espremendo o coração com o peso da necessidade que inventei. A necessidade que cavei em meus conceitos e crivei em minha vida como sendo a verdade absoluta do mundo. Como se fosse realmente o combustível da vida, moldei a necessidade de outro sem mesmo ser o outro aquilo que precisava.

“Pra onde você foi em busca de carinho? Eu não lhe dei tudo?” ela grita para o outro quando na verdade o que a está abandonando é ela mesma. Esse é o sentimento que está nas notas doces e agudas, nunca amargas, que a minha alma canta hoje. Não há amargura, apenas a sensação de partida. E quem parte de mim sou eu, pois fui eu quem criou o outro. Na verdade não há outro, nunca houve um amante, nunca houve um parceiro. Sempre houve a parte de mim que hoje se vai.

Neste fim profetizado por minha mente pós-moderna, de que adianta gritar para que o outro que não carrega em seu bolso a necessidade que criei, ‘Não se vá, meu amor”? De que adianta gritar como a música poeticamente embalada com uma embalagem pop para ser mais querida e reconhecível faz? De que adianta? O outro nunca vai levar a necessidade, mesmo que eu tenha tentado enfiá-la no bolso mais escondido de meu amante. Ela fica e o que vai é um pedaço de mim. Mas ela fica. Sempre. Buscando aquele pedacinho que se foi e esperando para ver se ela cabe no bolso de outro alguém. Teimosa, como se não soubesse que só pertence verdadeiramente apenas a um ser. Eternamente.